Por Macedo Prado
Se há algo que Donald Trump domina com maestria — além do infame penteado que desafia as leis da aerodinâmica — é a arte de testar os limites da democracia como quem cutuca uma cerca elétrica para ver se ainda dá choque. Agora, o ex-presidente norte-americano resolveu lançar ao vento mais uma de suas pérolas: diz que pretende concorrer a um terceiro mandato, como se a Constituição dos Estados Unidos fosse apenas um incômodo detalhe técnico, facilmente descartável diante de sua ilimitada ambição.
O problema é que a vigésima segunda emenda, aprovada há mais de 70 anos, estabelece que ninguém pode ser eleito presidente mais de duas vezes. Mas, para Trump, regras são meras sugestões — obstáculos menores no caminho de sua saga egocêntrica. Quando confrontado, ele garantiu que “não estava brincando”, o que é compreensível, já que brincadeiras costumam exigir senso de humor e leveza, qualidades que passam longe do repertório trumpista.
Seus apoiadores, sempre dispostos a reinventar a realidade para acomodar as fantasias do chefe, já ensaiam argumentos criativos. Alguns dirão que ele foi “eleito” duas vezes, mas “apenas uma delas foi reconhecida” — uma maneira engenhosa de sugerir que a contagem oficial dos votos deveria ceder lugar à contagem emocional dos derrotados. Outros alegarão que, sendo Trump uma entidade quase messiânica, as limitações constitucionais não se aplicam a ele, assim como leis de trânsito não se aplicam a ambulâncias.
O fato é que Trump continua a fazer o que sempre fez: transformar a política em um teatro onde ninguém decorou o roteiro, mas todos querem o aplauso final. Resta saber se os Estados Unidos ainda têm juízo suficiente para barrar sua próxima performance ou se vão, mais uma vez, pagar para ver.