Ir para o conteúdo

Pesquisa da USP revela como pets mudaram a economia e as famílias no Brasil

PUBLICIDADE

imagem gerada por IA

Continua depois da publicidade

SÃO PAULO – Os animais de estimação deixaram de ser apenas protetores e companheiros para se tornarem membros centrais das famílias e um motor poderoso da economia brasileira. É o que revela uma tese de doutorado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, que analisou como os gastos com pets quase triplicaram nas últimas décadas, refletindo uma profunda transformação cultural e de consumo.

Segundo a pesquisadora Clécia Satel, que analisou dados das Pesquisas de Orçamento Familiares (POF), a porcentagem de famílias que declararam despesas com animais de estimação saltou de 11,7% (2002-2003) para 30,2% (2017-2018). Essa mudança acompanha outra tendência: a diminuição do número de filhos por domicílio e o aumento no número de pets.

“Antigamente, os gastos eram praticamente com ração e medicamentos. Agora temos uma variedade de serviços e itens, desde roupas até petiscos que alimentam grandes indústrias”, comenta Satel. O estudo mostra que a mudança não se restringe aos mais ricos, atingindo também a classe média.

O fenômeno ‘pet parenting’ e os novos gastos

A pesquisa aponta para a consolidação do fenômeno do “pet parenting”, no qual os tutores tratam seus animais como filhos, investindo em cuidados e serviços que antes eram impensáveis. Isso explica o surgimento e a popularização de despesas com creches, adestramento, hospedagem de luxo e, principalmente, planos de saúde para animais —um item que sequer aparecia nas pesquisas de orçamento de uma década atrás.

A análise mostra que famílias com maior renda e menor número de pessoas tendem a gastar mais. Em 2018, a despesa mensal de um chefe de família com mestrado atingia R$ 88,41, em média. Os gastos mais “essenciais”, como ração, são distribuídos por todas as classes, enquanto serviços como hospedagem (razão de concentração de 0,982) e plano de saúde (0,896) são altamente concentrados nas famílias de maior poder aquisitivo.

“Muitos casais estão optando por não ter filhos ou deixando para o futuro, e encontram num animal de estimação uma companhia que não exige tamanho compromisso”, explica a pesquisadora.

Mercado em expansão

Essa transformação de comportamento impulsiona um setor econômico em plena expansão. As exportações de ração para pets, por exemplo, cresceram quase 60% entre 2020 e 2024, consolidando o Brasil como um player importante no mercado global.

O estudo indica que o nicho de serviços não essenciais deve se tornar cada vez mais lucrativo, refletindo a disposição do tutor em investir no bem-estar de seu pet. “Empresas estão começando a oferecer aos funcionários o direito de acrescentar o animal de estimação no seu plano de saúde, então essa mudança cultural é muito forte”, conclui Clécia Satel.

A próxima POF, prevista para 2026, deve revelar um crescimento ainda maior desse mercado, especialmente após o aumento do número de animais de estimação durante a pandemia.

Últimas

PUBLICIDADE

Rolar para cima