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O que se sabe sobre as mortes por metanol em bebidas e como identificar os riscos

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Uma crise de saúde pública se instalou em São Paulo após a confirmação de ao menos cinco mortes e a investigação de mais de 20 casos de intoxicação por metanol. A principal suspeita é o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com a substância, um álcool industrial altamente tóxico. A gravidade da situação levou o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a anunciar a abertura de uma investigação pela Polícia Federal (PF) para apurar a origem do contaminante e uma possível rede de distribuição interestadual.

O drama das vítimas expõe as consequências devastadoras do envenenamento. Relatos de sobreviventes incluem a perda permanente da visão, como o de uma mulher que consumiu três caipirinhas em um bar nos Jardins, além de sequelas neurológicas graves. Um dos jovens intoxicados permanece em coma.

Em resposta, uma força-tarefa composta pela Vigilância Sanitária e pela Polícia Civil interditou bares suspeitos na capital e intensificou a fiscalização, resultando na apreensão de dezenas de milhares de garrafas sem procedência.

Sintomas traiçoeiros e o ataque ao nervo óptico

Especialistas alertam que a intoxicação por metanol é traiçoeira. Os sintomas iniciais, náusea, dor de cabeça e vômito, podem ser facilmente confundidos com uma forte ressaca. No entanto, o quadro evolui rapidamente para sinais críticos, como confusão mental e, principalmente, alterações visuais.

“O metanol, ao ser ingerido, é transformado no organismo em ácido fórmico, e esse ácido ataca o nervo óptico”, explica o toxicologista Álvaro Pulchinelli Junior. Esse ataque pode causar visão turva, sensibilidade à luz e, em muitos casos, cegueira irreversível. O atendimento médico nas primeiras 12 a 24 horas é crucial para evitar sequelas permanentes e a morte.

Como se proteger? Dicas para identificar falsificações

Identificar o metanol na bebida é quase impossível para o consumidor, pois ele não altera cor, cheiro ou sabor de forma significativa. Por isso, a prevenção é a principal defesa. Autoridades e associações do setor recomendam:

  • Desconfie de preços muito baixos: Valores muito abaixo da média do mercado são um grande indicativo de fraude.
  • Verifique a embalagem: Rótulos tortos, borrados ou com erros de impressão são sinais de alerta. O lacre da tampa deve estar intacto.
  • Exija nota fiscal: A nota garante a rastreabilidade do produto e que ele foi adquirido de um distribuidor legal.
  • Compre em locais confiáveis: Dê preferência a supermercados e empórios conhecidos, evitando o comércio informal.
  • Procure os selos de controle: Destilados devem ter o selo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) próximo à tampa.

Crime organizado e um mercado sem controle

A crise em São Paulo lança luz sobre um problema estrutural: o domínio do mercado ilegal de bebidas. Segundo pesquisas, até 36% dos destilados comercializados no Brasil são falsificados, contrabandeados ou adulterados. Em 2023, as bebidas ultrapassaram o cigarro como o produto mais falsificado no país.

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) levanta a hipótese de que o metanol usado nas bebidas pode ser o mesmo importado ilegalmente pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para adulterar combustíveis. Segundo a teoria, operações recentes contra fraudes no setor de combustíveis teriam forçado a facção a redirecionar o produto para destilarias clandestinas.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmam, no entanto, que “não há evidência” da participação da facção, tratando o problema como resultado de fraudadores que atuam de forma independente. A PF, por sua vez, investiga a possível conexão.

Especialistas apontam que a desativação, em 2016, do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) da Receita Federal criou um vácuo na fiscalização, facilitando a sonegação e a expansão do mercado ilegal. Sem rastreabilidade, o crime organizado encontrou um negócio de alta lucratividade e baixo risco, usando o setor tanto para gerar receita quanto para lavar dinheiro de outras atividades ilícitas.

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