Nos últimos dez anos, os casos de picadas de escorpião no Brasil aumentaram mais de 250%, configurando um fenômeno que especialistas classificam como uma crise de saúde pública silenciosa. De 2014 a 2023, foram mais de 1,17 milhão de casos registrados, com uma média de 10.363 novos casos por ano. As projeções são alarmantes: estima-se que até 2033, o número ultrapasse 2 milhões.
A recente morte de uma criança de três anos em Jaguariúna (SP), após ser picada por um escorpião escondido em uma galocha, evidencia o risco iminente e invisível que ronda milhares de lares brasileiros.
O perigo invisível
O avanço dos escorpiões se dá, principalmente, pelo desequilíbrio ambiental e pelo crescimento desordenado das cidades. Espécies do gênero Tityus, como o T. serrulatus, têm alta capacidade de adaptação e se proliferam facilmente em locais com saneamento precário, acúmulo de lixo e ambientes úmidos e escuros, como a rede de esgoto.
Esses animais podem sobreviver até 400 dias sem alimento e são capazes de alcançar até andares altos de edifícios urbanos, o que amplia a exposição da população, independentemente da higiene doméstica.
Crianças e idosos correm maior risco
Embora a letalidade média das picadas seja baixa (0,06%), grupos como crianças, idosos e pessoas com doenças cardíacas estão mais vulneráveis aos efeitos das toxinas. Os sintomas variam de dor intensa, náuseas e taquicardia até quadros graves de choque anafilático.
As neurotoxinas do veneno se espalham rapidamente no corpo, exigindo atendimento médico imediato. O soro antiescorpiônico está disponível na rede pública, mas muitas vezes centralizado em apenas uma unidade por cidade, o que dificulta o acesso rápido ao tratamento.
Um problema global, com foco crítico no Brasil
O escorpionismo não é exclusividade brasileira. Regiões como África, Oriente Médio, Índia e América Latina também enfrentam aumento de casos. No Brasil, a região Sudeste lidera os registros, com quase metade dos casos notificados entre 2014 e 2023.
A espécie Tityus serrulatus, que se reproduz sem necessidade de acasalamento (partenogênese), representa o maior desafio no Sudeste. Além disso, a diversidade de espécies peçonhentas dificulta a eficácia do soro atual, que é produzido com base apenas nessa espécie.
Falta de investimento compromete combate ao escorpionismo
Pesquisadoras como Eliane Arantes (USP) e Manuela Pucca (Unesp) alertam para o baixo investimento em pesquisa e inovação no combate ao escorpionismo. Enquanto outros países avançam no desenvolvimento de soros de nova geração, o Brasil ainda utiliza técnicas centenárias, como a aplicação da peçonha em cavalos.
Sem apoio e reconhecimento da doença como negligenciada, o País corre o risco de depender futuramente de soluções importadas.
Como se proteger dos escorpiões
Evitar acidentes com escorpiões requer atenção a pequenas práticas no dia a dia:
- Sacudir roupas e calçados antes de usar
- Evitar deixar objetos no chão
- Instalar telas em janelas e ralos
- Manter móveis afastados das paredes
- Colocar barreiras lisas ou curvas ao redor de muros
- Vedar frestas e saídas de esgoto
Mesmo com todos os cuidados, o risco nunca é zero. Por isso, em caso de picada, ligue para o Samu (192) imediatamente para ser direcionado à unidade mais próxima com soro disponível.
Hora de agir: saúde pública em alerta
O aumento das picadas de escorpião é um reflexo direto das mudanças climáticas, da falta de políticas públicas de controle e da negligência com doenças tropicais. É preciso investir em prevenção, pesquisa e descentralização do tratamento, antes que a situação se torne ainda mais crítica.
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