Às vésperas do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, o Ministério das Comunicações assinou acordos com a empresa chinesa SpaceSail e a Administração Nacional de Dados da China. As parcerias, anunciadas nesta terça-feira (19), buscam fortalecer a infraestrutura digital brasileira e ampliar a oferta de serviços de internet banda larga via satélite.
A SpaceSail, sediada em Xangai, é especializada em satélites de órbita baixa (LEO, em inglês), conhecidos por formarem “constelações” próximas à Terra. Essa tecnologia oferece maior velocidade e confiabilidade na transmissão de dados, crucial para regiões remotas. Atualmente, a empresa conta com 18 satélites em operação, mas pretende lançar até 15 mil até 2030, desafiando a hegemonia da Starlink, de Elon Musk, que possui cerca de 6 mil satélites.
Alternativa à dependência da Starlink
Hoje, a Starlink domina o mercado de internet via satélite no Brasil, com 45,9% de participação, segundo a Anatel. O serviço é amplamente usado em áreas isoladas, especialmente na Amazônia, por instituições civis e militares. Contudo, tensões recentes entre Musk e autoridades brasileiras, incluindo o Supremo Tribunal Federal (STF), levantaram questionamentos sobre a dependência do país em relação à empresa.
Em agosto, o STF suspendeu temporariamente as operações do X (antigo Twitter) no Brasil, alegando descumprimento de ordens judiciais. A crise gerou rumores sobre uma possível interrupção das atividades da Starlink no país, preocupando setores estratégicos como as Forças Armadas e a Petrobras, que utilizam o serviço.
Planos da SpaceSail no Brasil
Os contatos entre o governo brasileiro e a SpaceSail começaram oficialmente em agosto, durante visita do presidente da empresa, Jie Zheng. Entre as metas está iniciar operações no país até 2025, dependendo de autorizações da Anatel e da construção de infraestrutura local.
Uma possibilidade em discussão é a parceria com a estatal Telebras, que poderia usar a tecnologia da SpaceSail para levar internet a escolas e outras instituições públicas. Assim como a Starlink, o serviço exigirá antenas compactas para acesso à rede.
Especialistas avaliam que a entrada de novos competidores pode equilibrar o mercado e reduzir a dependência de um único fornecedor. “Multiplicar as opções é estratégico, tanto para o setor público quanto para o privado”, afirma Thiago Ayub, diretor de tecnologia da Sage Networks.
Para a China, expandir sua influência nesse setor é prioridade. A criação de uma nova infraestrutura de internet via satélite foi destacada como objetivo estratégico pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma do país desde 2020. A parceria com o Brasil reforça essa ambição e sinaliza um movimento para competir diretamente com empresas norte-americanas.
Impacto político e econômico
A aproximação com a SpaceSail também reflete uma estratégia do governo Lula para diversificar fornecedores e fortalecer a soberania digital brasileira. Em declarações recentes, o presidente ressaltou que o Brasil não deve ceder a pressões externas e precisa estabelecer regras claras para empresas estrangeiras.
Enquanto isso, a Starlink segue expandindo no Brasil, mas enfrenta um cenário mais competitivo. Para os consumidores, a entrada de novos atores no mercado pode resultar em serviços mais acessíveis e de melhor qualidade.
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