Por Macedo Prado
Eis que o ex-presidente Jair Bolsonaro finalmente alcança um feito digno de registro: tornou-se réu no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado. Não foi necessário tanque na rua, nem discursos inflamados à beira do precipício institucional — bastou um amontoado de “patriotas” crédulos, um plano desengonçado e a arrogância de quem acredita que a História se curva à vontade do líder.
A decisão do STF foi unânime, algo raro em tempos de divisões acirradas. Alexandre de Moraes, que já se tornou a assombração oficial dos bolsonaristas, votou sem hesitação, como quem risca um nome da lista de inadimplentes da democracia. O julgamento em si transcorreu sem surpresas: todos os indícios apontam para uma conspiração desajeitada, um roteiro digno de filme B — sem orçamento, sem direção e com atores de quinta categoria.
Bolsonaro, claro, já se diz vítima de perseguição política. Para seus seguidores, ele não tentou golpe algum — foi apenas um chefe de Estado entusiasmado demais com a própria continuidade no poder. O problema da verdade é que ela não rende likes, e nada mais conveniente do que transformar a Justiça em vilã quando o enredo não sai como esperado.
Agora, resta acompanhar os próximos capítulos. O homem que se vendeu como defensor da lei e da ordem se vê, ironicamente, na posição de réu. E como qualquer réu ilustre, negará tudo, atacará o sistema e continuará a posar de herói injustiçado. A política nacional é um teatro onde ninguém decorou o roteiro, mas todos querem o aplauso final.
Se haverá condenação? Só o tempo dirá. Mas, até lá, Bolsonaro seguirá fazendo o que sempre fez de melhor: trocando a realidade pelos delírios de seus devotos — porque, convenhamos, a ilusão é sempre mais confortável do que os autos do processo.