Na recente posse de Gleisi Hoffmann como ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um momento que alguns chamariam de descontração e outros de descuido, referiu-se à ministra como uma “mulher bonita” ao justificar sua nomeação para o cargo. A declaração, feita durante o lançamento do Programa Crédito do Trabalhador, gerou uma onda de reações que variaram entre críticas ferozes e defensivas apaixonadas.
Vivemos tempos em que palavras são analisadas com a precisão de um bisturi. Um elogio à aparência, outrora visto como cortesia, hoje pode ser interpretado como insensibilidade ou, pior, machismo. Lula, com décadas de vida pública, certamente sabe que cada palavra sua é um tijolo na construção da percepção pública. Ao destacar a beleza de Gleisi Hoffmann como qualificação para a articulação política, abriu espaço para questionamentos sobre a valorização de competências femininas na política.
A oposição, sempre atenta a qualquer deslize, não perdeu tempo em apontar o comentário como inadequado. Em contrapartida, a própria ministra minimizou a fala, classificando os críticos como “oportunistas tentando desmerecê-lo”. Para ela, “gestos são mais importantes que palavras”.
É curioso notar como episódios como este ganham proporções gigantescas, enquanto questões substanciais muitas vezes passam despercebidas. A posse de Gleisi Hoffmann representa uma estratégia política significativa, visando fortalecer a interlocução entre o Executivo e o Legislativo. Entretanto, o foco deslocou-se para um comentário infeliz, ofuscando debates sobre as reais implicações de sua nomeação.
No teatro político, a forma frequentemente se sobrepõe ao conteúdo. Episódios como este servem para lembrar que, em tempos de comunicação instantânea e julgamentos rápidos, líderes devem medir suas palavras com a mesma cautela com que elaboram suas políticas. Afinal, na política, até os elogios podem se transformar em armadilhas.