Após a intensa fase de aquecimento causada pelo fenômeno El Niño, o oceano Pacífico vive atualmente um período de neutralidade climática, sem alterações significativas de temperatura nas águas superficiais. Essa ausência de El Niño ou La Niña, confirmada por medições recentes, pode representar boas notícias para o Brasil, uma vez que reduz a probabilidade de eventos extremos, como secas severas ou chuvas intensas, comuns durante esses fenômenos.
La Niña ainda não chegou
Segundo publicação da DW Brasil*, a expectativa era de que La Niña surgisse já em meados de 2024, mas até agora o resfriamento necessário das águas do Pacífico Equatorial não ocorreu. Para ser considerado La Niña, é preciso que as temperaturas fiquem pelo menos 0,5°C abaixo da média por três meses consecutivos. No momento, essa redução está em 0,3°C.
Embora um boletim da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA) indique uma chance de 59% de La Niña se formar em breve, a previsão é de que, caso ocorra, seja um fenômeno de baixa intensidade. Segundo José Marengo, climatologista do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), é improvável que La Niña atinja níveis extremos neste ciclo.
Impactos no Brasil
O Brasil sente diretamente os efeitos desses fenômenos no clima. Durante La Niña, o Sul do país costuma enfrentar estiagens prolongadas, enquanto a Amazônia e o semiárido nordestino recebem mais chuvas. A última La Niña, que durou três anos (2020-2023), trouxe desafios históricos, como a pior crise hídrica em quase oito décadas na bacia do Paraná-Prata, essencial para a geração de energia hidrelétrica.
Por outro lado, o período de neutralidade pode trazer um alívio temporário, com condições climáticas mais estáveis. Regina Rodrigues, especialista em Oceanografia Física e Clima da UFSC, ressalta que anos neutros tendem a ser menos propensos a extremos climáticos. Entretanto, a pesquisadora alerta que as mudanças climáticas têm alterado padrões tradicionais, dificultando previsões.
Oceano Atlântico também preocupa
Mesmo com a neutralidade no Pacífico, o Atlântico Norte apresenta temperaturas 0,8°C acima da média, o que influencia diretamente o clima no Brasil. Esse aquecimento contribuiu para a estiagem histórica na Amazônia em 2024, agravada pela redução das chuvas na região.
Outro ponto de atenção é o enfraquecimento da Amoc (Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico), um sistema de correntes oceânicas que regula a distribuição de calor entre o Hemisfério Norte e o Sul. Caso a Amoc colapse, os efeitos podem ser devastadores, acumulando calor nos trópicos e mudando padrões climáticos globais.
Um planeta mais quente
Com 2024 prestes a ser confirmado como o ano mais quente da história, as consequências do aquecimento global tornam-se cada vez mais evidentes. O aumento das temperaturas dos oceanos intensifica a evaporação, alimenta chuvas extremas e acelera o derretimento das calotas polares. Na Antártida, grandes porções de gelo estão desaparecendo, enquanto o Ártico registra verões com níveis recordes de degelo.
Um estudo publicado na Nature Reviews Earth & Environment sugere que o Ártico poderá passar por verões sem gelo marinho já na próxima década, ressaltando a urgência de ações climáticas globais.
Desafios e ciência em evolução
Apesar dos avanços científicos, os modelos climáticos ainda enfrentam limitações para prever a complexa interação entre fatores como temperatura, correntes oceânicas e impactos na biodiversidade. Regina Rodrigues destaca que novas descobertas estão em andamento, e a comunidade científica espera avanços significativos na compreensão dos efeitos das mudanças climáticas em um futuro próximo.
*DW Brasil é a versão brasileira do site da Deutsche Welle, TV pública Alemã