Uma série de áudios e mensagens recuperados pela Polícia Federal (PF) revelou um plano articulado entre o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia para construir uma narrativa de perseguição política, buscar ajuda internacional e, em última instância, evitar uma possível prisão. As revelações levaram o ministro Alexandre de Moraes, do STF, a dar 48 horas para Bolsonaro explicar um possível descumprimento de medidas cautelares e o risco de fuga.
O plano detalhado nos áudios
A investigação, que mira a coação de testemunhas, expôs a estratégia do clã Bolsonaro. O plano consistia em usar o ato na Avenida Paulista, em 25 de fevereiro, como um palco para lançar uma ofensiva internacional. Nos áudios, Jair Bolsonaro aparece ditando trechos do discurso que Silas Malafaia deveria proferir, com o objetivo de pintar o ex-presidente como vítima de uma “ditadura do Judiciário”.
O papel de Eduardo Bolsonaro era ser a ponte com os Estados Unidos, buscando apoio de figuras como Donald Trump e Elon Musk. As conversas abordam abertamente a busca por uma “anistia light” e até mesmo a possibilidade de asilo político, o que acendeu o alerta máximo no Supremo Tribunal Federal.
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Moraes aumenta a pressão e vê risco de fuga
A divulgação do conteúdo levou a uma reação imediata do ministro Alexandre de Moraes. Ele deu um prazo de 48 horas para que a defesa de Bolsonaro se explique sobre a comunicação com outros investigados, como Silas Malafaia, o que configuraria uma quebra das medidas cautelares impostas a ele.
A menção explícita a “asilo” nas conversas reforçou a tese da PF de que há um risco real de fuga, tornando a situação do ex-presidente ainda mais delicada perante a Justiça.
Rachas internos e ataques a aliados
Enquanto a pressão judicial aumenta, o desespero político parece gerar fissuras no campo bolsonarista. Em meio à crise, Eduardo Bolsonaro teceu críticas públicas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, chamando-o de “ingrato” por, supostamente, não defender o ex-presidente com o vigor esperado. O ataque revela a tensão interna e a tentativa do clã de manter o controle sobre o futuro da direita brasileira.
Por que isso importa
As novas revelações são, talvez, o golpe mais duro na estratégia de defesa de Bolsonaro até agora. Os áudios fornecem provas materiais de que o ato na Paulista não foi um movimento espontâneo, mas sim uma ação calculada para minar o Judiciário e buscar interferência estrangeira. Para a PF, a evidência é robusta e torna o indiciamento do ex-presidente e de seu filho por coação e outros crimes um caminho quase inevitável. Politicamente, a trama expõe o isolamento e o desespero de um grupo que vê o cerco judicial se fechar de forma implacável.