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Editorial: Trump e a genial arte de cuspir no prato alheio

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Ilustração gerada por IA

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Eis que Donald Trump, esse baluarte da elegância geopolítica digna de um rinoceronte de terno, resolveu decretar tarifas contra produtos brasileiros. Foi como se o Velho Oeste invadisse o Planalto, pistola em punho e cérebro em recesso. Um ato tão refinado quanto tirar cera de ouvido com baioneta.

Na sua carta, que poderia muito bem ter sido escrita numa mesa de boteco às três da manhã, entre um gole e outro de rancor, Trump despeja sobre Lula ameaças que fariam corar até aquele tio do churrasco, que acha que geopolítica se resolve aos berros. A pena do presidente americano continua tão pesada quanto seu topete: uma tarifa de 50% em produtos brasileiros e outros tantos se houver a tal da reciprocidade.

O truque é velho: posar de herói nacionalista enquanto tateia o bolso do vizinho. E Trump não poupa recursos para parecer um Buffalo Bill decadente, atirando tarifas a esmo, mirando menos no interesse econômico real e mais na plateia que grita “America First” entre um hambúrguer e outro. E olha que tem brasileiro nessa patética plateia.

O que espanta, mas não surpreende, é o objetivo mal disfarçado: Trump quer meter o bedelho nas eleições brasileiras, querendo que o ex-presidente brasileiro, que está inelegível, volte ao jogo. Como se a diplomacia fosse ringue de WWE, e bastasse um golpe ensaiado para tombar a democracia do outro lado da linha do Equador. É a velha arrogância do imperial que acha que a urna brasileira é puxadinho da Casa Branca.

Enquanto isso, Lula corre para apagar o incêndio com a água que tem: uma reunião de emergência aqui, um pacto diplomático com o México ali. E faz muito bem. Porque não basta dizer que Trump está “mal informado” sobre Bolsonaro, como disse Alckmin num suspiro quase carola. É preciso lembrar que o mal-informado perigoso não é o tio do zap, mas o sujeito com botão nuclear e obsessão por likes.

O Brasil, que sempre teve a alma meio Macunaíma, precisa deixar a malandragem de lado e assumir que só resistirá a esse bufão armado de tarifas se apostar em diplomacia, solidariedade regional e, sobretudo, soberania. Não há humor que dê conta de um país ajoelhado na diplomacia do berro.

Trump pensa que resolve tudo na bala, ou na tarifa, que é sua bala de prata. Mas esquece que até o xerife mais truculento precisa, um dia, sentar à mesa com quem estava acostumado a intimidar.

No fundo, é como diria Nelson Rodrigues com sua ternura envenenada: toda unanimidade é burra, inclusive a de quem acha que Trump só é folclórico. Folclórico, sim, mas perigoso, porque seu folclore se escreve com cifrões, tanques e fake news.

E, no fim, resta a esperança, sempre ela, a última que morre e a primeira que leva tiro: que sejamos mais espertos que o caubói da discórdia. Porque, gostem ou não, a democracia brasileira não cabe na conta de importação de ninguém.

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